Por que Sofremos?


O Timothy Keller, em seu livro Caminhando com Deus em meio à dor e ao sofrimento, afirma que as pessoas hoje “estão bem menos preparadas para lidar com o sofrimento e bem mais traumatizadas por ele”. Ele afirma que uma das razões para isso é a visão secular sobre o sofrimento, que o considera um mero acaso, um acidente que atrapalha a busca pelo prazer, felicidade e liberdade, e por isso deve ser evitado e negado, pois não há nenhum propósito no sofrer. O problema dessa visão é que não prepara as pessoas para enfrentar o sofrimento, pois elas vivem em uma fuga dele, levando-as a buscarem um suposto “conto de fadas” idólatra, que idealiza uma vida perfeita, cheia de prazeres, felicidade, riquezas materiais, e isenta de dores. Mas se o sofrimento não é mero acaso, por que sofremos? Eis aí cinco razões:

A primeira razão e o principal motivo do sofrimento é “o pecado”. Aqui, primeiramente, não me refiro aos pecados individuais de cada um (que pelas suas consequências causam sofrimento), mas “ao pecado” como um todo que corrompeu a boa criação de Deus (cf. Rm 8.19-22). Sendo assim, “o pecado” que com Adão entrou no mundo trouxe morte e sofrimento ao mundo e a todos os homens (cf. Rm 5.12ss; 1 Co 5.22) pois todos pecaram. Se “o pecado’ não entrasse no mundo, não haveria dor nem sofrimento nem morte. E o culpado disso é o próprio homem (humanidade), pois “...Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias” (Ec 7.29). O sofrimento surge do pecado, pois “o pecado” nos separa de Deus que é o doador da vida e traz como consequência a corruptibilidade da morte que é a origem de todo o mal (cf. Rm 3.23; 6.23).

Ainda na primeira razão, temos as consequências dos pecados individuais que cometemos e as idolatrias de nossos corações, as quais também são causas de nossos sofrimentos. A idolatria é tudo aquilo que desejamos mais do que a Deus, toda expectativa demasiada nas circunstâncias e coisas que colocamos no lugar de Deus, e desta forma, “o sofrimento surge quando existe uma distância entre os desejos do seu coração e as circunstâncias da sua vida" (Timothy Keller). Essa distância entre as expectativas do coração e a circunstâncias, geram a insatisfação e angústia. Tais coisas são derivadas do pecado de não amar a Deus acima de todas coisas (cf. Êx 20.1-3; Dt 6.5; Lc 10.27).

A segunda razão do sofrimento é “a fé cristã”. Todo ser humano sofre por causa do pecado, mas nós cristãos sofremos também por causa de Cristo. A partir daqui todos os motivos de nosso sofrimento que listarei, são motivos relacionados a fé cristã, que tocam aqueles que creram verdadeiramente em Cristo como seu Senhor e Salvador. A Bíblia nos ensina que quando estamos em Cristo estamos indo na contramão do mundo, e do pecado, então somos perseguidos e ultrajados. Em João 15.20 Jesus diz: “Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros” (cf. Jo 15.18ss).  E noutros textos somos também alertados de que seremos perseguidos por causa de nossa fé, tais como: 2 Tm 3.12; Hb 11.32-38; 2 Co 12:10; Fp 1.9, 3.8; Lc 9.23-35, entre outros. Mas Jesus diz que somos "bem-aventurados", isto é, “muito felizes” quando perseguidos por causa do nome Dele (Mt 5.10). Isso nos chama atenção para a próxima razão:

A terceira razão é para que possamos “nos alegrar” por sofrer um pouco do sofrimento de Cristo (Mt 5.10-12). Paulo fala: "Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por Cristo e não somente de crerdes nele" (Fp 1.29), e em vários textos é mencionada a alegria de sofrer por Cristo, como se este sofrer fosse um dos privilégios mais importantes do cristão (cf. At 5.40-42; Tg 1.2-3; 1 Pe 4.16) . Nosso sofrimento, não se compara com o que Cristo sofreu por nós e em nosso lugar na Cruz. Não chega a ser 1% do inferno que Cristo sofreu para nos salvar (cf. Is 53; Hb 12.2-3). Por isso vemos os irmãos do Novo Testamento se alegrando quando sofriam por causa do nome de Cristo, mesmo que fosse mínimo esse sofrimento quando comparado ao do nosso Salvador.

A quarta razão é para sermos “aperfeiçoados” através dos sofrimentos. Este é o motivo que mais nos lembramos, e temos até um jargão cristão para ele, a saber: “não pergunte ‘o porquê’ dos sofrimentos e sim ‘para que’”. Nessas palavras está evidenciada a convicção que os sofrimentos nos farão melhores, isto é, nos aperfeiçoarão. Tiago nos ensina que o propósito dos sofrimentos é sermos feitos perfeitos e íntegros por meio deles, como Cristo é (Tg 1.2-3) e em outros textos bíblicos também encontramos esse propósito do sofrimento (cf. Rm 5.3-4; 1 Pe 1.6-7, Jó 42.5).  Vemos assim os sofrimentos como retratado nas palavras de Spurgeon: “Aqueles que mergulham no mar das aflições trazem pérolas raras para cima.

Max Scheler um filósofo antropólogo afirma que a fé cristã está “centrada no paradigma do homem inocente que se dispõe a sofrer pela culpa dos outros... O sofrimento [através de Cristo], adquire uma nova e extraordinária nobreza. A luz da cruz, o sofrimento se transforma em ‘purificação, e não em castigo’”.

A quinta razão do sofrimento é a “esperança da glória”. Sofremos porque se essa vida nesta terra fosse perfeita, sem dor, sem sofrimento, não desejaríamos o céu. Hoje em dia é muito mais fácil desejar as coisas, os prazeres do mundo, a tecnologia e o conforto da vida, e não o céu. Então sofremos, para sempre lembrarmos que este não é o nosso mundo, e não é aqui que teremos uma vida plena, a Vida Eterna. Paulo fala isso em Romanos, ele afirma que se gloria na “esperança da glória”, mas não apenas nela, mas também nas “próprias tribulações”, que produzirá em última instância a esperança (cf. Rm 5.2-3). Outros textos das Escrituras afirmam como meio de vencermos as provações, devemos nos lembrar da glória que nos está reservada (cf. Jo 14.1-4; 2 Co 4.17). O próprio Paulo diz: As aflições deste tempo não podem ser comparadas com a glória que em nós há de ser revelada” (Rm 8.18). Como também, a eternidade em Apocalipse é descrita como um lugar onde não haverá dor ou sofrimento, nem choro algum, pois o próprio Deus conosco estará e enxugará dos nossos olhos todas as lágrimas (Ap 7.14-17; 21.3-4; 22.3-5). Assim, sem dúvidas, os sofrimentos desta vida nos fazem desejar a eternidade e o nosso Deus. Por isso não deixemos de anseiar por nosso Deus todos os dias (cf. Sl 42), e que Ele nos encha com seu Santo Espírito e nos sacie com sua glória!

Por fim, em meio ao sofrimento podemos sempre descansar no fato que nosso Deus cuida de nós, e age em todas as coisas para o nosso bem. Deixo abaixo alguns textos que têm sido refrigério a minha alma quando atribulada pelos sofrimentos desta vida. Que Deus nos abençoe!



“O SENHOR é bom, é fortaleza no dia da angústia e conhece os que nele se refugiam.” (Naum 1.7)



 “No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo.” (João 16.33b)



 “Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito.” (Romanos 8.28 – NVI)



 “Mas, em todas estas coisas somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou.” (Romanos 8.37 – leia toda a passagem, Rm 8.35-39)



 “Lançai sobre o Senhor toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós...” (1 Pedro 5.7)

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