Tolstói: A força da vida e o suicídio


No livro “Uma confissão” do condecorado escritor russo Liev Tolstói (1828-1910), há suas reflexões sobre o suicídio, por causa de uma crise que lhe acometeu por volta de seus 50 anos de vida. No capítulo VII do livro, depois de refletir nos capítulos anteriores sobre a efemeridade da vida, e, através de pensadores como o Rei Salomão e Arthur Schopenhauer (1788-1860), ver os absurdos e crueldades da vida, bem como a inevitabilidade de doenças, do sofrimento e da morte, Tolstói apresenta quatro “saídas” para a terrível situação que todo homem se encontra, são elas:

   A saída da ignorância, que consiste em não saber e não entender que a vida é crueldade e absurdo;

   A saída epicurista, que consiste em aproveitar os bens e prazeres desta vida, sem olhar para as dificuldades e desespero da vida, mesmo sabendo que existem por pouco tempo. Esta saída, segundo Tolstói, era adotada pela maior parte de pessoas de seu círculo, e ela é fortemente caracterizada pelo torpor moral e pela imaginação, que faz esquecer a inevitabilidade da doença, do sofrimento e da morte. É o que muitos de sua época chamavam de filosofia positiva;

   A saída do suicídio era a que ele estava sendo tentado, denominada por ele a saída da força, que consiste em aniquilar a vida, uma vez compreendido que a vida é crueldade e absurdo;

   E, a saída da fraqueza, saída na qual ele se encontrava, que consiste em continuar a vida, mesmo após ter compreendido os absurdos e sofrimentos dela.

Há, porém, uma saída que Tolstói não levou em conta neste capítulo, mas que o considera no capítulo seguinte. A quinta saída e única que é genuinamente satisfatória é a saída da fé em Cristo Jesus. Ele diz: “Não se vive sem fé. A fé é o conhecimento do significado da vida humana. A fé é a força da vida”. A partir daí no restante do livro ele mostra como chegou ao entendimento que a fé é a motivação principal que deve mover a vida, e não o saber científico (que o levou a depressão).

É sobre esta última saída que quero focar. No Salmo 37 Davi está diante das injustiças da vida e da prosperidade dos perversos nos seus maus desígnios, mesmo assim ele se volta para o seu leitor e diz: “Confia no Senhor e faze o bem; habita na terra e alimenta-te da verdade” (v.3). Davi põe a fé em primeiro lugar em suas exortações deste Salmo, pois Deus conduzirá a vida daqueles que creem Nele. Neste ponto ele concorda com Tolstói, em que a fé é o que move a vida, e o que motiva o viver.  

Fazer o bem, habitar na terra e alimentar da verdade é o que devemos fazer enquanto vivemos, é o ordinário, confiando no Senhor o extraordinário. Tais palavras remetem primeiro, ao caráter moral daqueles que confiam no Senhor (“faça o bem”), segundo, à confiança na provisão do Senhor enquanto “habitam nesta terra”, e por último, ao saciar espiritualmente por meio da verdade de sua Palavra (“alimenta-te da verdade”). Por isso que o versículo seguinte Davi fala para nós nos deleitarmos (literalmente) no Senhor: “Tenha o seu prazer no Senhor, e ele satisfará o desejo do seu coração” (v.4).  

Este é o fim principal do homem, conforme o Catecismo Menor de Westminster, “glorificar a Deus e desfrutar Dele para sempre”. Mas para que isso aconteça, para que o homem glorifique ao Senhor e desfrute Dele, como seu deleite, é necessária a fé. Por isso mais uma vez Davi nos exorta no Salmo 37 à fé e confiança no Senhor, quando diz: “Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele, e tudo ele fará.” (v.5). Literalmente, o termo entregar, significa “passar”, “transferir” ou “empurrar para”, e se refere a transferir todas as nossas preocupações ao Senhor: “lança teu fardo sobre Ele” (Salmo 55.22). No Novo Testamento, semelhantemente, Pedro nos exorta a “lançar sobre ele toda nossa ansiedade, porque ele tem cuidado de nós” (1 Pe 5.7).

De fato, a fé não só nos motiva, mas nos dá força para viver, foi isso que Tolstói compreendeu em suas reflexões. Mas ele não se voltou a qualquer fé, ele passou a confessar a fé em Cristo Jesus, e em Cristo ele conseguiu se livrar de suas angústias e desejo pelo suicídio. Se você tem passado por crises semelhantes as de Tolstói, e pelo conhecimento do mundo não consegue ver o propósito da vida e de sua existência, e isso tem trazido desespero em sua alma... Lance sobre o Senhor Jesus toda vossa ansiedade, creia e confie Nele, entregando sua vida totalmente a Ele, pois Cristo te convida graciosamente e com muito amor: “vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mateus 11.28).

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