O Cristão e o carnaval

Recentemente vi uma notícia de que o carnaval terá neste ano alguns blocos cristãos nas cidades de Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo. A reportagem trazida pelo portal de notícias UOL tinha como título a seguinte frase: “Bloco de carnaval cristão quer quebrar preconceitos em sua estreia”.[1] Há um número crescente de “cristãos” hoje em dia que advogam essa “quebra de preconceito” para a participação da famosa festa da carne brasileira. O mundanismo e a permissividade têm crescido muito em nossa época, os quais levam muitos “ditos cristãos” a se embriagarem com suas carnalidades, utilizando a própria “graça” do evangelho para defenderem as suas imoralidades. Contudo, a graça na Bíblia nunca é pretexto para o pecado, e sim motivação para não pecar; nunca é pretexto para a imoralidade, e sim motivação para a pureza moral e a santidade.

Para compreender a razão que o cristão não deve participar do carnaval, precisamos entender melhor a origem desta festa. Sua origem remonta as antigas festas “sartunais”, que eram realizadas em dezembro em culto a saturno, deus romano da agricultura; e as “lepercálias”, realizadas em fevereiro, como festivais de purificação. Nestas festas havia bloquinhos de dança, carros alegóricos levando homens e mulheres nuas, e eram cheias de imoralidades sexuais e bebedices. Os carros alegóricos, eram chamados de “carrus navalis”, podendo ser tal designação a origem remota do termo “carnaval”. Mais tarde, porém, a igreja católica romana assumiu a tradição pagã chamando-a de “carne vale” (adeus à carne), pois se tratava de uma festividade cheia de excessos, folia e extravagância, antes do início da quaresma (os quarenta dias que antecedem a páscoa onde os fiéis católicos realizavam jejuns em preparação para a abstenção de carne na semana de páscoa). O carnaval no Brasil, por sua vez, iniciou no período colonial, e se tornou uma das festas mais conhecidas do mundo, que apesar de ser totalmente secularizada hoje, chegou por aqui como uma festividade religiosa ligada à igreja católica romana, que continha elementos do paganismo e das religiões afrodescendentes.[2] [3]

Apesar de haver uma conexão entre o catolicismo e a popularização do carnaval após a idade média, tal festa não tem nada a ver com o verdadeiro cristianismo. A idolatria e as imoralidades que são promovidas por esta festividade mundana e sincrética, são altamente combatidas pelos apóstolos de Jesus Cristo. Paulo, um dos autores Bíblicos que mais pregou sobre a graça de Deus, sobre o perdão gratuíto que não pode ser merecido, nem comprado, e sobre a liberdade do Espírito que temos em Cristo, enfaticamente condenou as obras da carne, dizendo “... as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam” (Gl 5.19-21).

A palavra grega “kōmos” traduzida por “glutonaria” no texto acima, é importante para o entendimento que queremos chegar. Esta palavra aparece também em Romanos 13.13 e 1 Pedro 4.3, e se refere às festas romanas da compulsão, conhecidas pelo excesso de comidas ou bebidas e libertinagem moral.[4] Em algumas versões o termo grego é traduzido por “orgias” em vez de “glutonaria”, pois segundo Strong tal se refere à: “procissão noturna e luxuriosa de pessoas bêbadas e galhofeiras que após um jantar desfilavam em folia pelas ruas com tochas e músicas em honra a Baco ou algum outro deus.” [5] Sendo, portanto, esta a razão de Paulo enfaticamente dizer aos Gálatas: “vivam pelo Espírito, e de modo nenhum satisfarão os desejos da carne” (Gl 5.16).

 Semelhantemente, em Efésios 5.3 Paulo assume uma postura radical proibindo até mesmo o se fazer menção das “imoralidades sexuais, impurezas, cobiças, pois tais não são próprias aos santos” (que foram feitos santos ao crerem em Jesus). E, em 1 Coríntios 10.21, Paulo repreende a igreja quanto a participação de festas cuja comida é oferecida a ídolos, afirmando que os cristãos “não podem beber do cálice do Senhor e do cálice dos demônios; não podem participar da mesa do Senhor e da mesa dos demônios”.

Pedro também repreende a igreja quanto a estes pecados, mostrando que tais faziam parte da antiga vida dos cristãos, antes da conversão, conforme ele mesmo diz: “no passado vocês já gastaram tempo suficiente fazendo o que agrada aos pagãos. Naquele tempo vocês viviam em libertinagem, na sensualidade, nas bebedeiras, orgias e farras, e na idolatria repugnante” (1 Pe 4.3). Para Pedro esta vida mundana é incoerente com o sacrifício de Cristo e sua graça, pois segundo ele, “Cristo sofreu corporalmente... para que, no tempo que nos resta nesta vida, não vivamos mais para satisfazer os maus desejos humanos, mas para fazer a vontade de Deus” (1 Pe 4.1-2). Igualmente, João, o discípulo amado, nos adverte em 1 João 2.15: “Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele”.

Por fim, quero relembrar a todos vocês cristãos, das Palavras de Paulo em Romanos 12.2: “... não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” Não vos “conformar” com este século, ou não vos “amoldar” a este mundo (conforme a tradução da NVI), tem sido em todos os tempos um dos maiores desafios da igreja. A igreja brasileira hoje tem se tornado secular e mundana, pela não compreensão clara do evangelho da graça e do sofrimento de Jesus por causa do pecado. Precisamos de conversão verdadeira que é demostrada pelo fruto da santidade, e assim, nos libertar deste evangelho da permissividade, tosco e idólatra, que aprova e promove a participação de “cristãos” em festas como o carnaval.


[1] DANTAS, Olívia. Bloco de carnaval cristão quer quebrar preconceitos em sua estreia. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/carnaval/2019/noticias/redacao/2019/01/12/bloco-de-carnaval-cristao-quer-quebrar-preconceitos-em-sua-estreia.htm. Acesso em 22 de fevereiro de 2020.
[2] SILVA, Daniel Neves. "História do Carnaval"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/carnaval/historia-do-carnaval.htm. Acesso em 22 de fevereiro de 2020.
[3] Revista Super Interessante: Qual é a origem do Carnaval? Por Cíntia Cristina da Silva e Alexandre Versignassi. Publicado no dia 18 de Abril de 2011.
[4] Léxico de sentido Bíblico. Software Logos 8.
[5] Strong, J. (2002). Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong. Sociedade Bíblica do Brasil.

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